Entre o Mar de Quiaios e o coração da Serra da Boa Viagem

 


O percurso "Entre o Mar de Quiaios e o coração da Serra da Boa Viagem", é um pouco exigente pela sua altimetria, mas deslumbrante pela sua paisagem.

Inserido no corredor entre as Zonas Dunares e a serra, desenvolve-se ao longo de cerca 18 km, e tem um formato circular.

Iniciamos na Praia de Quiaios, a Norte da Figueira da Foz, com um longo areal rodeado por dunas cobertas de vegetação.

Durante a Idade Média, a região de Quiaios foi protegida por uma fortaleza, que foi construída para defender a costa de ataques de piratas. Com o passar dos anos, a fortaleza foi sendo destruída e a região passou a ser ocupada por comunidades de pescadores, que aproveitaram os recursos do mar.

No início do século XX, com o desenvolvimento do turismo na região da Figueira da Foz, a Praia de Quiaios começou a ser frequentada por banhistas e turistas, que se encantavam com a beleza da praia e das paisagens naturais circundantes.  

O mar com ondulação forte é muito apreciado pelos praticantes de surf e bodyboard.



A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) é responsável pelos trabalhos de reforço e estabilização do cordão dunar entre as praias de Quiaios e Murtinheira, bem como do prolongamento do passadiço e a colocação de regeneradores dunares.

Lentamente começamos a caminhar pelos longos passadiços que protegem as frágeis dunas e assim chegámos à Murtinheira, sob o olhar acolhedor da Serra da Boa Viagem.


Iniciamos a subida para o cimo da povoação onde encontramos a capela do Senhor dos Aflitos. 


É no primeiro Domingo de Outubro que se realiza a romaria em honra do seu patrono.


Por uma íngreme subida podemos observar as camadas de estratificação e uma bonita vista onde somos confrontados com um cenário deslumbrante sobre as praias de Quiaios e da Murtinheira.

O percurso traçado permite descobrir a biodiversidade da serra e as particularidades geológicas da Área Protegida do Monumento Natural do Cabo Mondego. 

No que concerne à vegetação, a associação mediterrâneo-atlântica possibilita uma diversidade florística notável, onde se destacam o carvalho-português, a aroeira, o pilriteiro, o abrunheiro-bravo, o sanguinho-das-sebes e o pinheiro-bravo.

Embora a infestação de acácias seja uma presença constante.

E assim chegamos ao Miradouro da Bandeira, considerado um dos mais espetaculares da costa portuguesa. A sua elevação proporciona grande amplitude visual, desde Quiaios até Mira. 

Nalguns dias o jogo das luzes gera curiosos efeitos, confundindo-se, por vezes, o verde da mata nacional com a cor do oceano, de forma que o areal parece uma extensa ilha.
Por trilhos comuns ao BTT somos levados à descoberta de uma cascata singular, onde outrora existiu um moinho, cujos vestígios ainda são visíveis. situa-se num vale pitoresco e é alimentada por uma ribeira que corre por entre as montanhas.

Este curso de água, que seca completamente com a falta de chuva, mas que nos invernos chuvosos constitui uma admirável queda de água, cujo leito apresenta interessantes formas dos depósitos calcários que descem da serra. 



Não seguimos o "Fun Trak" e descemos por um trilho ingreme de pedra rolada, onde os bastões são uma preciosa ajuda.


Um pouco mais á frente encontramos o PR 3 FIG, que está com muitas marcações destruídas. Continuamos o nosso percurso por curiosos estratos geológicos, em formato de degraus.



Contornamos o ribeiro que a falta de chuva deixou seco e subimos pelo seu leito calcário até á famosa cascata. 

A alcalinidade da ribeira que nasce na encosta da Serra da Boa Viagem deixa como que um rasto “vidrado”, resultante do depósito do calcário no curso da água

 A rota marcada segue ao nosso lado por um bonito trilho.

Após a cascata cortamos á esquerda, continuando no PR que não está marcado e entramos num parque de merendas abandonado.  


Atravessamos a estrada alcatroada e seguimos por um trilho ingreme coincidente com uma pista de BTT.


Seguindo em direção às eólicas e á antena de telecomunicações, chegamos ao Parque do Sapador, com mesas de apoio e um baloiço, perto de antigas casas dos serviços florestais.


Um bom local para um merecido descanso e merendar.


A existência de um baloiço na árvore permite um pouco de diversão 


Saímos da parte caminhando um pouco junto á estrada, para depois cortar a esquerda num caminho de terra, até ao Parque Florestal de Merendas. 

Saímos da parte caminhando um pouco junto á estrada, para depois cortar a esquerda num caminho de terra, até ao Parque Florestal de Merendas. 

Continuamos até à Capela de Santo Amaro que se situa no Prazo de Santa Marinha. A sua origem é do século XIX, tendo sofrido várias obras devido a assaltos e atos de vandalismo. Durante um desses assaltos foi acesa uma fogueira lá dentro que veio a destruir o telhado e parte da capela.

Esta capela pertence à paróquia de Quiaios e a festa em honra de Santo Amaro realiza-se todos os anos no 1º Domingo depois do dia 15 de Janeiro.

Na serra estão a decorrer trabalhos de limpeza e desmatação, em que muitos caminhos estão estão em mau estado devido aos rodados das máquinas (inclusivé a sinalização do PR foi destruída nalguns locais). 

O Plano de Gestão Florestal (PGF) da Serra da Boa Viagem, previa em 2020 acabar no prazo de 20 anos com as acácias, espécies invasoras que ocupam a maioria do coberto vegetal deste espaço natural.

Após alguns atalhos reencontramos o caminho e seguimos à procura da bonita Fonte de Santa Marinha. Atravessámos uma área de vegetação espessa, encontrámos as escadarias da Fonte.

Mais á frente reencontramos o PR3, que nos acompanha até avistar o farol.


Chegamos a uma bifurcação em que um dos trilhos nos leva ao Farol do Cabo Mondego. Com 100 anos (1922) o edifício inclui uma torre central (de 9 metros de altura) ladeada por dois corpos longitudinais, destinados a alojamento dos faroleiros. 

Ao longo dos anos foi beneficiado com algumas inovações técnicas. Em 1988 o foral autonomizou-se definitivamente, o que levou à supressão dos faroleiros.


Nos afloramentos jurássicos do cabo Mondego, onde funcionaram as Minas de Carvão (as primeiras do país) e foi explorada cal hidráulica,  é referenciado mundialmente como o único local no mundo, no qual, sob o ponto de vista estratigráfico, se podem observar e estudar rochas com cerca de 170 milhões de anos.



Optamos por seguir pela direita em direção a Murtinheira, numa longa subida entre pedras soltas e alguns fósseis.
 
São locais com registo sedimentar expressivo e com conteúdo elevado em amonites como testemunho da história da terra .

Aqui encontra as pegadas de dinossauros mais antigas de Portugal (megalossaurídeos – espécies bípedes e carnívoras), primeiramente descritas em 1884. num local conhecido como "Laje do Costado".


Depois iniciamos a descida para a praia da Murtinheira com o mar á vista.



E assim regressamos ao ponto de partida, caminhando pelos passadiços da praia, onde encontramos alguns simpáticos habitantes que fazem os seus passeios.














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