Trilho do Luso à Serra do Buçaco
Local
de Partida: Grande Hotel de Luso -
Estacionamento
Coordenadas: (40°23'06.4"N
8°22'42.7"W) Ponto de Encontro
Características
do Percurso: Circular (caminhos urbanos e trilhos
pedestres)
Época
aconselhada - Todo o ano
Distância: 12 km
Duração: 6 h
Desníveis: desníveis acentuados
Nível
de Dificuldade: Moderada
O percurso decorre predominantemente na Mata do Buçaco.
Competindo com Sintra como um dos lugares mais encantadores de Portugal, o Buçaco é um tesouro onde cada recanto tem uma história para contar, uma forma de vida para observar e paisagens para contemplar.
Foi delineado de modo a explorar o património edificado e natural da vila do Luso até à Serra do Buçaco. É um itinerário com caminhos interpretativos, alguns desconhecidos dos roteiros turísticos e preenchidos com narrativas para contar.
O Luso é referenciado em 1064 num inventário de vilas e lugares, já o Monte Buzaco é mencionado em 919 num documento do Mosteiro de Lorvão.
Vila do Luso:
No Século XIX com o desenvolvimento das termas e a eterna aliança com a pureza dos ares do Buçaco, não tardou que esta vila se tornasse o destino de férias de ricos e notáveis.
Alguns construíram aqui as suas residências de veraneio, transpondo para o Luso, durante os alguns meses, as festas, a moda e o glamour da sociedade burguesa da época. Foi esse motivo que nos motivou a deambular um pouco pelas suas ruas e admirar algumas das bonitas edificações.
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Grande Hotel de Luso |
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Vila Aurora |
Continuamos
pelo contorno do Lago, avistando a Vila Aurora, antiga residência fidalga do século XIX, evocando o ambiente cativante de um castelo medieval inglês e hoje transformada num bonito hotel.
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Parque do Lago e ao fundo a Vila Aurora |
Depois surge a Vila Missi. Um chalé dos finais do sec. XIX, bem ao estilo Romântico construído por Barbosa Colen jornalista e grande amigo de Emídio Navarro. Mais tarde, o empresário hoteleiro Alexandre de Almeida adquiriu-a para oferta como prenda de casamento da filha.
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Vila Missi |
Foi esse motivo que nos
motivou a deambular um pouco pelas suas ruas e admirar algumas das suas bonitas
edificações. Iniciamos este pequeno
passeio na vila termal do Luso, junto ao Grande Hotel, partindo do parque de
estacionamento.
É o Grande Hotel de Luso que desde 2017 faz a gestão operacional das Termas. Este bonito hotel dos anos 40, foi mandado construir pela Sociedade da Água de Luso e é da autoria do arquiteto Cassiano Branco (autor do Portugal dos Pequenitos).
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Chafariz |
Depois encontramos o Chafariz de traça simples, que noutros tempos teve à sua frente, um tanque para os animais beberem. Na coluna exterior lê-se a data de 1910, e no seu interior, tem mensagem de 1917 da Sociedade de Propaganda de Portugal, em latim "Pro Patria Omnia " (tudo pela pátria).
A Sociedade de Propaganda de Portugal tinha como fins eram: «organizar e divulgar o inventário de todos os monumentos, riquezas artísticas, curiosidades e lugares pitorescos do país; publicar itinerários, guias e cartas roteiras de Portugal; organizar ou auxiliar excursões; promover a concorrência de estrangeiros, e uma maior circulação de nacionais dentro do território; (...) e de uma maneira geral estudar todas as questões de interesse geral conexas com o fim da sociedade».
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Edifício das Termas do Luso |
E contornamos o edifício das Termas do Luso.
As termas tiveram origem abaixo da fonte de água fria, onde brotava um “olho” de água quente, chamado de “Banho. Foi na data de 1775 que o médico José António de Morais, terá recomendado o “Banho” para curar doenças de pele.
Em 1838 construi-se o primeiro edifício para estabelecimento termal. Mais tarde, em 1893 a casa Eiffel construiu um edifício com uma estrutura em ferro para acolher uma das piscinas mais belas da europa.
Em 1931 o Arqt.º Pardal Monteiro elabora um projeto de transformação do Balneário Termal, que ao longo dos anos, foi sofrendo várias obras de adaptação e reestruturação.
Encontramos aqui vários edifícios ligados às termas, como o destinado ao engarrafamento de Água de Luso e depois surge o emblemático Café do Casino do Luso, um exemplar do estilo Arte Nova, datado de 1886.
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Antiga sede da Sociedade Água de Luso |
Estilo Arte Nova, o Casino do Luso é datado de 1886, sendo um belo exemplar arquitectónico que retrata a Belle Époque portuguesa.
Está integrado nas Termas do Luso, e é um local por excelência de Animação Termal, que proporciona momentos lúdicos e culturais. Engloba um magnífico Salão de Espectáculos, Biblioteca e Salas para momentos culturais e de exposição.
O emblemático Café Casino está integrado no complexo arquitetónico do Casino do Luso, também no estilo Arte Nova, e foi totalmente recuperado em 2016 após um investimento da Sociedade da Água de Luso, e a exploração foi entregue à Rosa Biscoito.
Pela rua começamos a ver pessoas transportando garrafões de água. É constante a presença de homens e mulheres a encherem os recipientes na fonte para levaram para as suas casas.
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Fonte de São João |
A Fonte de São João Evangelista tem 11 bicas e fornece aos visitantes uma água de nascente, de origem superficial. Muitos residentes na vila, nos lugares vizinhos e visitantes vão à fonte encher vários garrafões para levar para casa.
Junto a esta existem uns painéis de azulejos onde se explica porque o Luso é uma vila de água. E a água até deve estar abençoada porque em cima da fonte está uma capela. Reza a lenda que quem beber da primeira bica, voltará ao Luso para se casar.
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Capela de São João Evangelista |
A Capela de São João Evangelista é do século XVIII, de estilo simples, com uma pequena capela-mor, e restaurada em 2010 com apoio da fundação Luso.
Continuamos pelas ruas do Luso, com as suas casas apalaçadas que já conheceram o esplendor de outras épocas. Seguimos por uma travessa junto ao Alegre Hotel Bussaco, casa histórica construído em 1859 para ser casa de férias do Conde da Graciosa, tendo sido a primeira casa senhorial a ser construída no Luso.
Estas casas de férias no Luso, davam à vila um ar aristocrático típico da "belle-époque", que alguém um dia chamou de "Suiça em Portugal".
Chegamos à estrada Luso-Penacova ou Rua Emídio Navarro, onde se situa o Chalé deste antigo jornalista e político.
A freguesia do Luso ergueu-lhe um monumento em 1917 numa homenagem ao impulso que deu ao Luso proporcionando-lhe um lugar pioneiro na indústria do turismo em Portugal.
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Monumento a |
A vegetação da Mata do Buçaco começa a ser evidente....algumas placas toponímicas levantam a questão da ortografia do Buçaco ou Bussaco?
Antes da reforma ortográfica de 1911, era frequente escrever Bussaco. Depois de 1911 passou a ser sempre Buçaco, pela razão de a grafia com ç ser mais coerente com a sua história linguística desde o século X (919) - "monte buzaco". Também a documentação existente sugere que, até ao século XVI, este topónimo se escrevia com ç.
Tudo isto não impediu que a forma Bussaco permanecesse na tradição e na promoção turistica como «Palace Hotel do Bussaco» ou a «Fundação da Mata do Bussaco».
Em síntese, a forma correta atual é Buçaco, mas, para fins comerciais, turísticos ou no âmbito da cultura, é frequente encontrar a forma Bussaco.
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Escadaria da Porta dos Degraus |
Continuamos pela Rua da Porta do Buçaco, subindo depois a "longa" escadaria que nos conduzirá até ao interior da mata pela Porta dos Degraus.
A Mata do Buçaco está classificada como Imóvel de Interesse Público pela sua riqueza patrimonial. O núcleo central é formado pelo Palace Hotel e pelo Convento de Santa Cruz juntam-se as Ermidas de habitação, as Capelas de Devoção e os Passos que compõem a Via Sacra. Fazem ainda parte a Cerca com as várias Portas, os Cruzeiros, as Fontes (como a Fonte Fria e a sua monumental escadaria), o Museu Militar e o Monumento Comemorativo da Batalha do Bussaco, bem como os Miradouros (o da Cruz Alta) ou as Casas florestais.
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Caminho da Mata |
Percorremos caminhos florestais até à entrada da Porta do Serpa. Foi construída por volta de 1865 e deve o seu nome ao Prof. Catedrático Manuel de Serpa Machado que, devido às suas diligências, fez com que, em 1838, o Convento e Mata do Buçaco fossem retirados da lista dos bens anunciados para venda.
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Estrada junto da Porta do Serpa |
O portão aí existente, em ferro, uma obra de arte com mais de 150 anos, foi retirado quando se alargou a entrada e mudado para a Porta do Luso, hoje vulgarmente conhecida por Portão dos Passarinhos.
Prosseguimos o nosso trilho por locais deslumbrantes e "novos caminhos" que nos surpreendem. A mata cupa atualmente105 hectares e tem uma das melhores coleções dendrológicas da Europa, com cerca de 250 espécies de árvores e arbustos. Foi doada em 1628 pelo então bispo de Coimbra, D. João Manuel, à Ordem dos Carmelitas Descalços para a construção do seu “Deserto”.
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Caminho na árvore |
Seguindo depois por uma outra vereda até ao Lago Grande, um local de paragem obrigório para uma fotografia.
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Lago grande |
Continuámos pelo deslumbrante Vale dos Fetos, um espaço verde emblemático, cujo nome deriva da existência de vários exemplares de fetos de porte arbóreo. “Fósseis vivos” dizem as guias, porque em tempos foram alimento de dinossauros herbívoros.
O arruamento deste vale foi construído em 1887-88, tal como o Lago Grande.
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Vale de S. Silvestre e Rua dos Fetos |
É uma mata encantada, esta, óbvia matéria de romance e poesia.
Contava Eça de Queirós que Antero de Quental “marchava léguas [supostamente desde Coimbra], em rijas caminhadas que se alongavam até à mata do Buçaco”, onde “desaparecia, se embrenhava sozinho”.
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Fetos arbóreos |
Convento
dos Carmelitas Descalços.
O
Bispo de Coimbra doou as terras à ordem dos Carmelitas Descalços em 1628 para construírem
um mosteiro.
Os
monges, então, edificaram o Convento de Santa Cruz e uma cerca com mais de
cinco quilômetros. Ergueram, também, as ermidas onde se dedicavam à oração e
ampliaram a mata com novas espécies exóticas vindas das colônias portuguesas.
No Buçaco os monges encontraram o seu Deserto - refúgio, local de oração,
penitência e harmonia com a natureza.
A decoração do Convento era feita com pedras brancas, pretas e vermelhas (quartzo, basalto e escórias ferruginosas). Nas paredes foi usado um revestimento de cortiça de forma a garantir o isolamento térmico e acústico das celas.
Depois da Extinção das Ordens Religiosas (1834), D. Maria Pia pretendeu criar neste espaço um palácio real, que rivalizasse com a Pena. Mas os planos acabaram por não se concretizar e o então Ministro das Obras Públicas, Emídio Navarro, muito ligado ao Buçaco, propôs a construção de um palácio do Povo, ou seja, um hotel.
O Palácio do Buçaco foi edificado no local do Convento de Santa Cruz e mandado construir pelo Rei D. Carlos I que, influenciado pelo chamado “Romantismo Castelar”, decidiu homenagear os descobrimentos, com inspirações no Claustro dos Jerónimos e na Torre de Belém.
O arquiteto italiano Luigi Manini foi o responsável pelo projeto.
No final de Agosto de 1904 o rei D. Carlos I, inaugurou oficialmente o hotel, que inclui azulejos de Jorge Colaço com cenas de Os Lusíadas e de Autos de Gil Vicente.
Neste hotel aconteceu a última cerimónia da Monarquia, com a comemoração do centenário da Batalha do Buçaco, no dia 27 de setembro de 1910. Uma semana depois, com o advento da República, o jovem rei partiu para o exílio.
Percorremos os bonitos jardins e seguimos para a Porta da Rainha.
Esta Porta foi aberta em 1693 para a passagem da Rainha de Inglaterra D. Catarina de Bragança, que pretendia visitar o Buçaco por razões de fé. A visita não chegou a ser feita e a porta foi entaipada.
A impossibilidade da visita da Rainha , acabou por ser abençoada pois tratar-se-ia da primeira entrada de mulheres na Cerca Conventual. Diz-se que quis a vontade divina, que tal não acontecesse.
Foi reaberta em 1704 quando passou pelo Buçaco o Rei D. Pedro II.
O edifício situa-se junto da Capela de Nossa Senhora da Vitória e Almas, que durante o período da batalha foi aproveitado pelos Frades Carmelitas Descalços do convento próximo, para acolher um hospital de sangue, onde foram assistidos os feridos da batalha de ambos os exércitos, sem qualquer distinção.
Para além do Museu existem nas suas proximidades outros locais históricos ligados à batalha, como o Posto de Comando do Duque de Wellington, o Moinho de Sula, as Ruínas do Moinho da Moura, o Posto de Comando do Marechal Massena e o Obelisco Comemorativo da Guerra Peninsular.
O obelisco foi construído em 1873 a partir de uma pedra única, vinda de Pero Pinheiro (Sintra). Mas foi atingido 3 anos depois por um raio e reconstruído com vários blocos.
Voltamos a entrar na Mata pela Porta de Sula. Das mais antigas portas do cenóbio carmelita, deve a sua designação à proximidade da aldeia de Sula.
Remonta aos meados do Sec, XVII. Durante as invasões francesas os muros laterais foram rasgados para permitir uma melhor defesa.
Na Batalha do Buçaco, o General francês Simon foi gravemente ferido e feito prisioneiro pelas tropas anglo-lusas. O seu criado, resolveu transpor as linhas de fogo, para o socorrer, sendo recebido com tiros. Teve de retroceder aos postos franceses, chorando sua mágoa por não poder ir para o pé do seu senhor.
Estas lamentações foram ouvidas por uma vivandeira – uma mulher que acompanhava as tropas cuidando das necessidades primárias dos soldados, para além de fornecimento de víveres e bebidas, havia outras funções onde se incluía um aconchego. A linda rapariga, bem-apessoada, pega na bagagem que o criado trazia e vai levá-la ao General Francês.
Para espanto de todos, o fogo é suspenso de ambas as partes. Fica com passagem aberta e, é recebida alegremente pelos soldados, que a levam à presença do general ferido. Ali fica alguns dias ao seu serviço.
Uma semana depois, as tropas anglo-lusas derrotaram os franceses. Os vencedores levaram o general e a bonita vivandeira, que ao engano pensaram ser a esposa – e o general não negou!
Consta-se por aqui... que entrou em França como sua legitima esposa.
E assim chegámos ao ponto mais alto da Serra do Buçaco, onde a montanha atinge uma altitude de 547 metros. É, pois, um local privilegiado para apreciar a paisagem, avistando-se desde o Oceano Atlântico (a Oeste) à Serra da Estrela (Sudeste), passando pela Serra do Caramulo (Nordeste).
Conta a lenda, reforçada pela crónica dos carmelitas, que um antigo náufrago, encontrou a terra guiado pela vista deste ponto alto. Assim que chegou a terra, subiu a este ermo e ali colocou uma cruz de madeira em agradecimento á benesse.
Desde então terá sido permanente a existência do símbolo a sinalizar o facto. Destruída várias vezes pelo tempo, por raios ou pelos humanos, ela tem sido sempre recolocada com extrema teimosia e precisão.
Começámos a descer e entramos no Adernal.
Inserido na Floresta Relíquia, conserva as características típicas da floresta primitiva, antes da ocupação humana. Estamos no habitat do Adernal, cuja distribuição mundial se circunscreve aos escassos hectares existentes no Buçaco.
José Saramago chegou a confessar-se incapaz de descrever este local, pois “requer as palavras todas e, estando ditas elas, mostra como tudo ficou por dizer”.
Pelo trilho surgem algumas capelas associadas à via-sacra.
A via-sacra do Buçaco compõem-se de vinte passos, marcados por pequenas
capelas, à escala da de Jerusalém (tem que ver com a distância dos passos).
O
reitor da Universidade de Coimbra, Manuel de Saldanha, em (1644) implementou
a Via Crucis no deserto carmelita do Bussaco,
através de cruzes de pau-brasil que assinalavam, com legenda, os respetivos
passos.
Em
1694 foram construídas capelinhas e depois criadas de figuras em cerâmica
e pedra (destruídas na primeira metade do séc. XIX) e das quais resta apenas
uma representação de Cristo no Horto (hoje na ermida de S. José).
O cenário desolador a que chegaram as Capelas dos Passos levou o Governo
Português a encomendar (1887) ao ceramista Rafael Bordalo Pinheiro doze grupos
escultóricos para os Passos. No entanto, a morosidade da empreitada, o fim do
financiamento e a morte de Bordalo Pinheiro (em 1905) resultaram em apenas nove
cenas que nunca chegaram ao deserto carmelita.
Já em 1930 o escultor Costa Mota Sobrinho construiu as esculturas de terracota dos quatorze Passos da Paixão.
É na antiga entrada no Deserto de Santa Cruz do Buçaco, onde ficava a cela do padre porteiro, que encontramos as Portas de Coimbra. Por muito tempo foram a entrada principal da mata.
Na parede, estão inscritas duas bulas papais: uma de 1643, do Papa Urbano VIII, com sentença de excomunhão para quem destruísse árvores e apanhasse madeira…” acabando por ser uma mensagem inédita de âmbito de conservação da Natureza. Com efeito, os monges eram obrigados a plantar árvores, sendo proibido o seu corte sem autorização especial. Vinte anos antes, o Papa Gregório XV tinha interditado a entrada de mulheres nos conventos carmelitas e, portanto, também no de Santa Cruz do Buçaco.
Junto da Capela de S. José vamos encontrar uma das arvores mais antigas
da mata – um Cedro do Buçaco. Estima-se que terá sido plantado por volta de
1644. No ano de 2013 tinha uma altura de 32,9 m e 5,43 m de PAP (perímetro à
altura do peito).
O ciclone de 19 de janeiro de 2013 afetou grandemente a sua estrutura
No entanto o nome comum atribuído a esta espécie induz duplamente em erro, uma vez que esta espécie é na verdade um cipreste (Cupressus) e não um Cedro (Cedrus), além de fazer alusão ao Buçaco, dando ideia que a espécie é originária de Portugal, quando na realidade a sua origem é centro-americana.
Continuamos a nossa descida pelos bonitos bosques. A beleza é tanta que chegamos a ter inveja dos frades que aqui viviam (mesmo aqueles que tinham ido em penitência). Devemos-lhes esta mata que um dia decidiram criar para melhor servirem Deus. Não é por acaso que hoje somos surpreendidos por várias sequoias gigantes – quanto mais altas fossem as árvores, mais os carmelitas chegariam perto do Senhor.
Por aqui as lendas crescem com a natureza.
Hoje é raro verem-se pegas entre os muros que rodeiam a floresta. Os frades tinham feito um voto de silêncio. Viviam como os eremitas e nem as pegas podiam cantar. Rezam as crónicas que António de Cristo, o prior do convento, “porque Deus lho revelasse”, deu com um certo ermitão a criar na sua cela uma pega. Para ensiná-la a falar, o frade “fazia-o com ela”, embora “não sendo ouvido pelos outros ermitões”. Foi o suficiente para o prior ordenar ao pássaro que nunca mais tornasse a entrar naquele “lugar santo”, ao que o bicho terá baixado a cabeça, batido as asas e voado para sempre da clausura.
Trata-se da mais afamada fonte da Mata do Buçaco, e um dos seus lugares mais encantadores.
Entre os séculos XVII e XIX, os pontos de água (nascentes) e linhas de água que se encontram na Mata do Buçaco, comportaram várias intervenções, nomeadamente a construção de lagos e fontes, entre as quais a mais célebre, a Fonte Fria.
As duas linhas de água predominantes da Mata do Buçaco unem-se na Fonte Fria, originando uma linha de água que percorre o Vale dos Fetos.
Regressámos por um trajeto inverso, em que rapidamente descemos as escadas da Porta dos Degraus e estávamos no centro do Luso.
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E assim terminamos a visita a este tesouro, que nos faz concordar plenamente com Saramago ao dizer que “o melhor da mata...é perder-nos nela”.
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