Canhão do Vale dos Poios

 Canhão do Vale dos Poios 

Iniciámos a nossa jornada na pitoresca Capela de Nossa Senhora da Estrela, por onde também passa o PR 8 SRE PBL ANS (Rota das Dolinas e das Lagoas do Planalto de Sicó).

O santuário está localizado próximo de Poios, uma tranquila aldeia na freguesia de Redinha, concelho de Pombal, cujos vestígios da presença humana remontam ao Paleolítico.

A capela, voltada para poente, foi o centro de grandiosas romarias nos séculos XVI e XVII, destacando-se pela peculiaridade de metade da sua estrutura ter sido construída sob uma gruta.


O percurso segue em direção ao Miradouro, onde uma estátua de Nossa Senhora da Estrela, voltada para o litoral, o que remete à lenda que deu origem ao santuário. 


Segundo a história, um pescador que tinha saído para o mar deparou-se com um grande temporal que fez com que a sua embarcação andasse à deriva vários dias. Perdido e sem saber como regressar, fez a promessa de que, se chegasse a terra, faria uma capela em honra de nossa senhora. Uma estrela surgiu no topo de um monte, guiando-o de volta à terra. A capela foi erguida nesse local, hoje apreciada como espaço de culto religioso.


O culto mariano está entrelaçado a diversas lendas, desde a descoberta de uma imagem até a observação de sete capelas visíveis do santuário, conhecidas como as sete irmãs.

No alto da Serra dos Poios, contemplamos todo o vale do Anços e as serranias do concelho.

Após um breve desvio até outro miradouro, adornado com murais e cujo caminho é ladeado por um pomar de figos da Índia, continuamos o percurso pelos antigos olivais e campos de milho. 

No fundo do vale vemos uma dolina, que possui sempre água, fornecendo abrigo a rãs, tritões-marmorados, libélulas entre outros pequenos seres - a Dolina de Nossa Senhora da Estrela. Tem um diâmetro com cerca de 25 metros e a capacidade permanente de guardar água, fazia com que os peregrinos se lavassem aqui antes da subida ao santuário.

Seguindo pelo terreiro e cortando na travessa das almas, encontramos a indicação para o vale de Poios. Adentramos pelo canhão onde nos cruzamos com a GR 26. O impressionante Vale de Poios (ou Poio), manteve até agora os seus encantos resguardados devido à inacessibilidade e inospitalidade, revelando a sua beleza selvagem, abrigando uma fauna pouco comum, como o bufo-real, o peneireiro e o andorinhão-real (Apus melba).


Este é um dos maiores canhões fluviocársicos portugueses, moldado ao longo dos milénios pela água que escavou as grandiosas vertentes escarpadas.

Neste canhão fluviocársico a água só corre superficialmente em anos excepcionalmete pluviosos, brotando através de várias exsurgências, quando os caudais que fluem pelas galerias hipogeias engrossam demasiado.


Em trechos empedrados, o carreiro parece ter sido planeado para facilitar a caminhada, enquanto algumas oliveiras ainda resistem no leito do vale. Observam-se também focos de erosão nas encostas.


Após atravessar o canhão de Vale de Poios, deparamo-nos com um painel informativo sobre a Biodiversidade.


Passamos pela localidade de Poios e chegamos ao museu cujas obras se prolongaram durante anos. 


Este edifício abrigará o Centro de Interpretação e Museu da Serra de Sicó, visando criar um parque rural entre o santuário e a aldeia de Poios.

A erosão, ao longo de milénios, esculpiu no Maciço Calcário formas dramáticas como canhões, grutas, algares e outras insurgências. Ao retornarmos à capela, seguimos para um lugar intrigante que espanta e encanta quem por aqui passa – o conhecido "Monstro das Bolachas"

Composto por três buracas, proporcionando uma experiência adorável de ver. 

É seguramente um lugar misterioso e que vale a pena conhecer.


Durante a jornada, deparamo-nos com várias vias de escalada, e a Associação de Desenvolvimento Terras de Sicó tem alertado para a prática inadequada desta modalidade, durante a época de cria das aves rupícolas (aves que nidificam em rochas) nomeadamente de janeiro a julho.

É crucial respeitar a natureza e evitar a abertura de novas vias de escalada que possam afetar o habitat destas aves. Dá como exemplo, a abertura de uma via de escalada junto do único sítio onde o bufo-real nidificava no Vale de Poios, o que provocou o seu imediato abandono.

Este percurso pedrestre circular é um verdadeiro deleite para os amantes da natureza e da beleza cénica. Localizado em uma região calcária, este trajeto oferece vistas deslumbrantes, uma variedade exuberante de flora e fauna, além de uma atmosfera serena que transporta os caminhantes para um mundo de tranquilidade.

Embora já fosse nosso conhecido, cada passo é uma redescoberta, cada curva revela uma nova perspetiva, e cada momento é uma oportunidade de se conectar com a maravilha natural que nos cerca.


 Trilho Wikiloc



Comentários

Enviar um comentário

Publicações anteriores

Palácio Sotto Mayor I

Crónicas de Cedas: A Jovialidade da Idade

1ª etapa Grande Rota do Ceira: Coimbra a Segade

Rota pelo Quilómetro Vertical I - KV I (subida de Alvoco da Serra à Torre)

Rota da Garganta de Loriga